FICÇÃO OU BREVE REALIDADE?

Vi do meu carro, enquanto passava pelo distrito industrial, um homem chorando copiosamente enquanto cerrava o cadeado do portão de uma grande indústria fabricante de jatos.
Achei melhor parar e perguntar se aquela pessoa precisava de alguma ajuda. Pensei que talvez precisasse de uma ambulância ou qualquer socorro.
Desci do carro e corri até aquela pessoa, que também vinha em minha direção, e disse:

– Amigo precisa de ajuda?

Ele:
– Não, está tudo bem…

Mas não era o que sua linguagem corporal dizia. Então insisti prometendo a mim mesmo que seria a ultima vez:
– Posso ajudar?

Ele:
– Todos, um a um dos que trabalham aqui foram despedidos.
– Puxa vida! Sinto muito.
– Não sinta. Era previsto isso.
– Previsto? Como assim? Essa fábrica é enorme, emprega dezenas de milhares de pessoas…
– É verdade, mas quem está trabalhando está em sua casa agora.
– Home Office, né?
– Isso mesmo.

Mas, pensei, como assim? Então que vai construir o produto?

Tomei novo folego e perguntei:
– Bom, mas como serão construídos os jatos?
– Só robôs. Tudo que acontece ai dentro é dirigido por I.A.
– Inteligência Artificial?
– Isso mesmo. Nem de pilotos a empresa precisa mais.
– Não precisa de pilotos?
– Não. O avião é autônomo. Eles saem da fábrica, fazem os testes e voam para os clientes sozinhos.
– É. Eu sei. Já vi esses aviões autônomos. Só não imaginava que não precisava mais ninguém para produzir esses bichos aí.
– Fui o ultimo a entrar aqui. Só para apagar as luzes e fechar o protão. Os robôs não precisam de iluminação, sabe? Agora acabou para mim também.

Fiquei desolado. Não sabia mais o que dizer para aquele homem, mas, felizmente ele se adiantou:

– Obrigado por parar e perguntar…
– Sem problema. Só não sei o que te dizer agora.
– Tranquilo amigo. Posso te chamar de amigo?
– Claro! Por que pergunta?
– Porque estive tempo rodeado de maquinas e robôs por muito tempo. Eles não precisam de amigos.
– Entendo. Quer uma carona?
– Não, obrigado. Mas foi um prazer falar com você.
– Nem diga. Um abraço.

Enquanto voltava para meu carro vi aquela pessoa caminhando, de cabeça baixa, talvez chorando novamente, não sei. 

Subi no meu carro e disse:
– Vamos para casa.
O carro deu partida e se pôs em movimento…